Em setembro, a Praça dos Estudantes, na Vila Sahy, foi cenário de uma grande festa: o Clima em Movimento, um festival coletivo de justiça climática no litoral norte de São Paulo. Pensado e construído por muitas (muitas!) mãos, o evento carregava em si uma série de celebrações. Ele marcou o encerramento da Chamada Pública 2024 FunBEA pela Justiça e Educação Ambiental Climática, que ao longo de um ano apoiou movimentos e lideranças territoriais. Também integrou a programação do Mês da Filantropia que Transforma, iniciativa da Rede Comuá que tem como objetivo fortalecer o diálogo sobre as práticas da Filantropia Comunitária e de Justiça Socioambiental. Mas, acima de tudo isso, o festival foi a materialização do que o FunBEA acredita ser uma das ferramentas de mudança de mundo: a construção coletiva.

Também pode ser na festa, na dança, no abraço, na palma da mão e no afeto que o enfrentamento às injustiças acontece. Foi pensando nisso que o FunBEA, ao lado de todos os 18 movimentos e 5 lideranças da Chamada Pública 2024, construiu a programação da primeira edição do festival Clima em Movimento. Durante o dia, os presentes puderam prestigiar apresentações de samba de roda, samba de côco, capoeira, coral indígena guarani, hip hop, desfile de moda e declamação de poesia, todas feitas por lideranças e integrantes dos movimentos apoiados. Também era possível circular pela feira dos coletivos, onde estavam expostas comidas tradicionais e artes produzidas por cada um deles.

 

Tenda do Coletivo Educador Floresta & Mar recebe visitantes durante o festival Clima em Movimento. Imagem: Ed Davies
Apresentação do coral indígena guarani nhmandu rexan kan, da Aldeia Rio Silveiras. Imagem: Ed Davies.

A programação também contou com duas rodas de conversa sobre Justiça Climática, pautando temas como Clima e Direitos e o papel da Juventude na luta pelo clima e contaram com convidados mais do que especiais. Estiveram presentes Ivanildes Kerexu, liderança da Aldeia Rio Bonito (Yakã Porã), em Ubatuba, a presidente do Conselho do FunBEA, embaixadora da juventude climática na ONU e diretora do Instituto Perifa Sustentável, Mahryan Sampaio, o biólogo, presidente do Instituto Educa Brasil e membro do Círculo Territorial do LN, Pedro Rego, e a secretária geral do FunBEA, Semíramis Biasoli. 

Já a segunda roda contou com representantes da Chamada Pública FunBEA 2025, que está apoiando jovens comunicadores do litoral norte de São Paulo com uma formação em Educomunicação e Justiça Climática. Participaram desse papo Caio Rezende, universitário e educador sócio-ambiental no Instituto Conservação Costeira, Sandy Santos, caiçara, estudante de Artes Visuais e orientadora social no território da Costa Sul e Mariane Garcia, produtora cultural e ilustradora. Também fizeram parte da composição da mesa Fernanda Lazar, educadora e pesquisadora do projeto Educom&Clima, mediados pela Mahryan Sampaio. 

Roda de conversa sobre Clima e Direitos que aconteceu durante o festival Clima em Movimento. Imagem: Ed Davies

Mas a participação da juventude não parou por aí. Os jovens comunicadores populares do Litoral Norte colocaram a mão na massa durante todo o evento e contribuíram com a cobertura audiovisual, textual e fotográfica, além de intervenções artísticas em espaços da Vila Sahy. Com a orientação do artista e educomunicador Sylvio Ayala, todos os presentes no evento puderam participar da oficina aberta de graffiti, pintura, desenho, lambe-lambe e muito mais. A arte, afinal, também é ferramenta de luta.

Durante o evento, rolou oficina aberta de graffiti, pintura e desenho com Sylvio Ayala, artista e educomunicador. Imagem: Ed Davies

E falando em arte, um coletivo que marcou presença com a construção da expografia do festival foi o Escambau Cultura, que transformou a Praça dos Estudantes em uma exposição à céu aberto. Ali, estavam materiais artísticos construídos coletivamente ao longo da Chamada Pública FunBEA 2024, como o Yyakã Pamé Warã (rio para todos em tupi-guarani), um grande rio pintado em algodão cru que simboliza a união das lutas dos movimentos no território do Litoral Norte. Mas a grande estrela da exposição foi o “Rizoma”, uma obra de arte interativa pensada pelo Escambau Cultura que tinha como objetivo construir uma rede de mensagens para a COP 30.  O ponto de partida da obra é a construção coletiva, onde cada mensagem  e interação do público se somam, formando um grande emaranhado de fios, lembrando um rizoma de raízes.

“Ela representa a união de todos os coletivos que estão aqui e como é uma obra de arte participativa e é feita a partir da manualidade de cada pessoa que se aproxima dela, ela faz com que todo mundo se veja nessa obra e que a força de cada pessoa ajude essa obra a se tornar mais resistente. E a medida que a pessoa faz a tecelagem, vai meditar sobre uma mensagem para a COP 30”, explica a artista plástica Fernanda Lenzi, integrante do Escambau Cultura e uma das idealizadoras da obra. 

Participante interage com o “Rizoma”, obra de arte interativa proposta pelo Escambau Cultura que irá levar uma mensagem à COP 30. Imagem: Ed Davies

Do litoral norte à Belém: FunBEA irá levar representante territorial para a COP 30

Um grande objetivo do evento era  também fortalecer as articulações territoriais em relação à COP 30, que acontece em novembro, na cidade de Belém. O FunBEA acredita na incidência territorial em espaços de governança global, como são as Conferências do Clima e, por isso, desde o início do ano vem planejando sua participação no evento a partir do fortalecimento das pautas daqueles que são os verdadeiros guardiões e defensores do clima: as comunidades tradicionais, periféricas, povos originários e juventudes. 

Pensando nisso, o FunBEA elegeu um representante  do território para levar à COP 30 e o  anúncio aconteceu durante o evento.  O jovem líder comunitário, que foi apoiado pelo FunBEA através da Chamada Educação e Justiça Climática de 2024, Breno Silva do Nascimento, mais conhecido como MC Brenalta, foi anunciado com aplausos e celebração de todos. “A gente precisa agir, se conectar, promover encontros como esse que está acontecendo aqui hoje para que de alguma forma a gente pense juntos em um futuro melhor”, diz Brenalta. 

Brenalta MC (à esquerda) ao lado do jovem Alejandro, comunicador popular da formação Educom, Juventude e Justiça Climática. Imagem: Ed Davies.

O festival terminou com o “dois para lá, dois para cá” embalado pelo forró pé de serra da banda Peixelétrico, pois nada mais simbólico do que encerrar o dia com uma dança que constrói passos fluídos e conjuntos. O festival Clima em Movimento foi isso: a construção e materialização de alianças entre aqueles que compartilham do território, das lutas e dos sonhos de um outro mundo. É a partir da troca de ideias e experiências que se criam novas referências. O FunBEA apoia e acredita nisso. 

A banda de forró Peixelétrico fez o encerramento do festival. Imagem: Ed Davies