Os Mais Novos Protetores Do Litoral Norte

Cuidadores Das Águas

Por Ana Patrícia Arantes

Com a proposta de fortalecer a identidade do território e coletivos para a proteção das águas, o FunBEA , a UFSCar – Universidade Federal de São Carlos e o CBH-LN – Comitê de Bacias Hidrográficas do Litoral Norte realizaram a formação “Cuidadores das Águas”.

Elaborado para dar destaque à diversidade dos saberes de quem vive na região, o Cuidadores das Águas preservou o olhar dos participantes (sociedade civil, lideranças, movimentos, gestoras e gestores públicos), fomentando possíveis intervenções no território.

O conteúdo da formação surgiu das questões e bandeiras de luta de cada participante. Entre as pautas levantadas tivemos: gestão de bacias hidrográficas, pesquisa de percepção socioambiental, oficina de saneamento alternativo e campanha audiovisual.

O Cuidadores das Águas teve apoio do Fundo Estadual de Recursos Hídricos e capacitou mais de 70 instituições dos municípios de Ubatuba, Caraguatatuba, Ilhabela e São Sebastião com uma Educação Ambiental que emancipa e fortalece as agendas locais integrando-as nas políticas públicas.

Apoio Aos Coletivos

Além da proposta formativa, foi possível realizar um apoio colaborativo em serviços em valores de R$600,00 reais para os Coletivos dos 4 municípios do litoral norte.

Os Coletivos puderam iniciar suas práticas como Cuidadores das Águas, fortalecendo as ações de Educação Ambiental em seus territórios. Com isto, os quatro municípios representados por instituições, lideranças, gestoras e gestores públicos, artistas e movimentos sociais, criaram seus planos de ação e colocaram em prática propostas de engajamento e compromisso com as políticas públicas de cada local.

Perequê-Açu Em Ubatuba

Em Ubatuba, o grupo formado conseguiu o envolvimento dos proprietários de quiosques da praia do Perequê-Açu com a temática dos resíduos sólidos. O grupo trabalhou os princípios da coleta e o descarte dos resíduos, além de mobilizar outros públicos do entorno como comerciantes, associações de moradores, cooperativas e veículos de mídia.

                                       Equipe em ação com comerciantes na praia em Ubatuba.

A ação piloto envolveu seis quiosques que participaram de diálogos sobre a importância de realizarem uma coleta de resíduos responsável em seus estabelecimentos.

Ana Paula Accacio Veloso aponta que a pesquisa de percepção socioambiental realizada por meio da formação foi uma importante ferramenta para sensibilização do tema. Ela ajudou na integração com a sociedade e serviu de grande inspiração para o projeto. Ainda deu a oportunidade de conhecer outros grupos e perceber afinidades de trabalhos .

“A expectativa é que nosso projeto ganhe visibilidade suficiente para que outros quiosques percebam a necessidade de aderir a ação.”

A próxima etapa, segundo Paula, é apresentar os resultados para comerciantes de outras praias do município, visando a replicação do Projeto.

A Voz Da Comunidade Em São Sebastião

Com uma proposta criativa de comunicação comunitária, o Coletivo de São Sebastião, produziu spots que foram veiculados nas rádios abertas e comunitárias, além da “Bike Som”, uma bicicleta equipada com caixas de som que faz anúncios pela comunidade da praia de Boiçucanga, em São Sebastião/SP.

Uma das organizações, o Instituto Supereco disponibiliza os spots para uso livre.

Com uma proposta criativa de comunicação comunitária, o Coletivo de São Sebastião, produziu spots que foram veiculados nas rádios abertas e comunitárias, além da “Bike Som”, uma bicicleta equipada com caixas de som que faz anúncios pela comunidade da praia de Boiçucanga, em São Sebastião/SP.

Os spots trouxeram temas atuais, como o COVID-19 e outras doenças, bem como o cata treco, microlixo nas praias, descarte consciente, coleta e separação de resíduos, lixo eletrônico e lâmpadas.

Para Andrée de Ridder Vieira – Presidente do Instituto Supereco, uma das participantes e presidente do Instituto Supereco, a campanha veio em um momento importante:

“Por conta da COVID-19, o descarte incorreto de máscaras aumentou a poluição nas praias e nos rios. Nossa estratégia foi diversificar a divulgação de informações, utilizando diferentes produtos como pequenas pílulas para rádios comunitárias e internet”.

A estratégia do coletivo foi a utilização de formatos atemporais nos conteúdos, facilitando a divulgação em diferentes momentos. A campanha pode ser adotada em ações de ruas, eventos, entre outros.

O material pode ser encontrado na rádio web do Supereco, onde estão disponíveis para serem replicados.

Andrée ressalta que a formação Cuidadores das Águas despertou nas pessoas uma leitura mais crítica do seu território por meio de conteúdos técnicos e profissionais de qualidade e finaliza:

“Nos sentimos seguros, preparados. Acreditamos que a Educação Ambiental move uma transformação social.”

O Suplício Das Águas Em Caraguatatuba

O cenário proposto foi à beira mar, na foz do rio. A cena acompanha uma narrativa poética e provocadora, propondo uma reflexão sobre os homens, a natureza e o rio.

Além do vídeo, placas educativas foram colocadas em diferentes pontos como cachoeiras, condomínios e foz. Algumas placas foram produzidas artesanalmente, através de uma ação com as crianças da comunidade.

        Através de uma poesia audiovisual, Caraguatatuba trouxe questionamentos e reflexões sobre a preservação da água.

Gabriela Marotti Ricardo, uma das idealizadoras da proposta, conta que estar na formação Cuidadores das Águas estimulou os grupos para conhecer quem são as pessoas atuantes socioambientalmente em sua região. Também possibilitou um pequeno mapeamento local onde foi possível entender os pontos críticos para uma micro intervenção.

“A formação me mostrou que é possível por meio de uma micro intervenção causarmos um impacto positivo, e que o micro desperta para o macro.”, explica Gabriela.

Sobre continuar com as ações após ter participado da formação Gabriela responde:

“Quero ser um canal de vivência para minha comunidade ter acesso, não só a informação mas principalmente a prática. Já tenho um outro vídeo em mente e a produção de plaquinhas educativas não parou! Aproveito o momento para estar com minha filha de 8 anos. Ela aprendeu muito nesse processo e disse que vamos pregar plaquinhas pelo mundo!”

Ilhabela Pergunta: Quanto Lixo Produzimos?

                                           Placas educativas na trilha de cachoeira.

Com os pés no território, Ilhabela faz o seu chamado para a conscientização individual sobre o consumo. Juntos caminharam por pontos de grande acúmulo de resíduos. Escolheram duas cachoeiras muito frequentadas pelos moradores nos bairros: Água Branca e Reino. O local é próximo ao manguezal e tem a frequência de um importante morador local, a lontra.

Lucilia Pansera Spiritus, uma das participantes do grupo, avisa que ainda serão colocadas mais placas no norte da Ilha, em Siriuba. Para ela, a formação do FunBEA/Ufscar e CBH-LN, foi uma oportunidade de acesso à importantes materiais como conteúdos de textos e vídeos e complementa:

“O  envolvimento dos grupos de todos os municípios durante o processo nos encheu de coragem, vontade e muita troca de experiências.”

Financiar Propostas Engajadas Com Políticas Públicas E Educação Ambiental

                                            Campanha faz um alerta pelas águas de Maresias.

O financiamento possibilitou a criação da Campanha Saneamento Já, que questionou a qualidade das águas na praia de Maresias, um dos locais mais badalados do litoral de SP.

O aporte de recursos para a formação dos Cuidadores das Águas, teve como objetivo o fortalecimento de uma política de Educação Ambiental engajada com a arte do diálogo que favorece a pluralidade, a justiça socioambiental e política. Semiramis Biasoli, secretária geral do FunBEA comenta:

“Atuamos com propostas de financiamento das bases no território para o fortalecimento do Programa Nacional de Formação de Educadores Ambientais, o ProFEA, com propostas que qualifiquem as políticas públicas de educação ambiental.”

Os processos de formação financiados estão integrados na agenda da Política Nacional de Recursos Hídricos, nos Programas de Comunicação Social dos Comitês de Bacias Hidrográficas. As formações têm como principal objetivo ampliar a potência de ação dos atores e instituições na região, além de formar agentes parceiros e multiplicadores para a conservação das águas no litoral de São Paulo.

Produtos Financiados

Materiais de comunicação como release, vídeos, boletins e o próprio Programa de Comunicação, um documento que aponta as diretrizes de comunicação, mobilização e formação para os próximos dois anos no Comitê de Bacias Hidrográficas do Litoral Norte foram também produtos construídos ao longo do processo.

O Comitê ousou e apostou na proposta de agregar a formação na ação comunicativa. Foi um esforço em conjunto com a secretaria executiva, membros e câmaras técnicas.

“Precisamos de instituições presentes no colegiado. Temos espaços nos conselhos para a sociedade civil colocar as demandas e fazer a diferença. Temos legitimidade!”

Aponta Pedro Rego, do Instituto Supereco, coordenador da Câmara Técnica de Educação Ambiental do Comitê.

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