Em 18 de setembro, a Associação Caiçara Juqueriquerê (ACAJU) tirou do papel um antigo sonho: a construção do Mini Museu Casa Caiçara. Localizado no bairro Porto Novo, em Caraguatatuba, no litoral norte de São Paulo, o espaço é um ponto de cultura e de memória. O Mini Museu tem como objetivo preservar memórias, histórias e saberes das comunidades que vivem no entorno do Rio Juqueriquerê, curso d’água de treze quilômetros de extensão que dá nome à associação. Seu acervo, composto por objetos doados por caiçaras e moradores da região, apresenta símbolos da cultura caiçara. Lá estão instrumentos de pesca tradicionais, como a fisga utilizada na pesca da tainha, um osso de baleia recolhido por um morador caiçara entre as décadas de 70 e 80, além de miniaturas de barcos e instrumentos para a produção de farinha. 

Silvia Regina Paes, integrante da ACAJU, conta que a ideia é que ali sejam também realizadas rodas de conversa e diálogos, gerando maior conexão entre visitantes, turistas e moradores locais. “O museu é um espaço vivo de interação, de histórias que aconteceram e de histórias que ainda estão acontecendo, de pessoas que se foram e de pessoas que ainda estão vivas”, diz. 

Inauguração do Mini Museu Casa Caiçara em Caraguatatuba. À esquerda, Pedro Paes, fundador da ACAJU e à direita, sua filha, Silvia Paes. Foto: ACAJU

A associação, que existe há 25 anos, nasceu da vontade de preservar o Juqueriquerê, o único rio navegável da região. Foi a conexão com o rio que fez com que o caiçara Pedro Paes percebesse que havia algo diferente acontecendo ali. Por meio da observação, reparou que pelo leito do Juqueriquerê, no meio dos peixes e outros animais, estavam também figuras mais agressivas: sacos de lixo. Pedro, ao lado de outros colegas caiçaras, iniciou um mutirão de limpeza do Rio Juqueriquerê e foi esse pontapé que deu início à criação da ACAJU. 

Em 2024, a associação foi uma das organizações selecionadas pela Chamada Pública FunBEA pela Justiça e Educação Ambiental Climática e, desde então, vem recebendo apoio direto (financeiro) e indireto (formador). A partir desse processo, a ACAJU se fortaleceu e pôde, enfim, materializar um antigo sonho. “Existem várias associações, formalizadas ou não formalizadas, que precisam de suporte para realizar os seus planos e projetos. (…) O FunBEA foi fundamental na realização do Mini Museu e também na organização administrativa da ACAJU”, diz Silvia Paes. 

O Mini Museu Casa Caiçara. Imagem: ACAJU

O FunBEA acredita na potência das iniciativas locais e atua a partir da perspectiva de fortalecer o que já existe dentro dos territórios e a ACAJU tem uma história de mais de duas décadas de proteção da natureza e da cultura local. “A cultura de um pequeno lugar carrega conhecimento, carrega técnicas e uma série de afazeres que são milenares. (…) Não é só para o lugar. É uma ética de ser e estar que pode contribuir para o conhecimento da humanidade”, finaliza Silvia Paes.