A força da comunidade na gestão alternativa de acesso à água e esgoto

*Ana Patrícia Arantes


Comunidades no entorno da sub bacia do Rio Cambury. Em alguns pontos, tem uma população de 100% sem coleta de esgoto. Imagem: FunBEA

Todo dia tem alguém com o pé no chão fazendo o saneamento acontecer. Seja comunidade, liderança,  seja um morador ou moradora.

Nós precisamos de água e não dá para esperar abrir rua, marcar escritura, ter estudos ambientais em tempo de autorizar o uso da água para um tempo que se faz  “já”.

Então como é que fica toda essa gente que a gente escuta dizer que não tem saneamento?

É justamente isto que o FunBEA – Fundo Brasileiro de Educação Ambiental quer responder e para isto vem fortalecendo alternativas que já existem nas comunidades, mas precisam ser potencializadas e financiadas.

O FunBEA leva para as formações educadoras ambientalistas uma importante provocação para o olhar e ações no acesso ao saneamento comunitário.

Na região do Litoral Norte de SP, onde estes processos vêm acontecendo em parceria com Comitê de Bacias local, o  uso da água pelas captações alternativas e esgotos sem tratamento chegam a mais de 40% . A partir de um diagnóstico prévio realizado pela equipe FunBEA  e de engenharia do projeto Comunidade Amiga do Rio, que atua em cinco diferentes ZEIS (Zona de Especial Interesse Social) da sub bacia do Rio Cambury, em alguns pontos, temos uma população de 100% sem coleta de esgoto.

Os dados são preocupantes para abordagens convencionais, mas na perspectiva de aproveitar o potencial local temos uma alternativa para pensarmos  sobre a gestão comunitária de águas.

Mas como assim? o povo pode cuidar da água, definir em conjunto seus sistemas individuais e coletivos de tratamento de esgoto?

Existe legislação para isto e a Educação Ambiental  crítica, pode levar a pauta do saneamento coletivo literalmente para a rua.

Em cinco anos de práticas no Litoral Norte, fazendo a ponte entre a comunidade, governo e fundos de financiamento, o FunBEA  intervém  com a potência dos processos formativos de educação ambiental emancipatória.

Neste ano, formações sobre águas com membros do Comitê de Bacias e comunidades conseguiu dar voz, por exemplo, a um morador da Vila Sahy que é responsável por cuidar da água.  Ele faz a gestão da captação, mangueiras e reservação, tudo com a colaboração da comunidade.

Por conexão com o FunBEA, foi possível aproximar a realidade da Vila com os gestores das águas, indo além de dados estatísticos, mas mostrando a prática comunitária na gestão.

Além dos  “pés no chão do saneamento” , o FunBEA também está potencializando propostas da engenharia sanitária ambiental mais ecológica, com a realização do projeto Comunidade Amiga do Rio, na praia de Cambury, mobilizando através da  educação ambiental uma comunidade com cerca de 10  mil pessoas que vivem na região para pensar juntos o saneamento.

Atualmente o FunBEA também  avança com a segunda edição da  Campanha Quanto Vale? Pela reparação socioambiental do LN,  criando Alianças e financiando coletivos.

Não é mais possível fechar os olhos e achar que as pessoas são números e dados estatísticos de vulnerabilidade social e ambiental. Elas precisam ser provocadas a ocuparem os espaços de decisão, e para isso a educação ambiental crítica é um processo emancipatório,  necessário às novas tomadas de decisão.

É este cenário de possibilidades que o FunBEA e suas  educadoras ambientais envolvidas na construção de sociedades sustentáveis acreditam.

O pé do território e nas políticas públicas é a grande revolução para construção de sociedades justas e sustentáveis e para a reparação  do Litoral Norte de SP e todo o Brasil

* Ana Patrícia Arantes é jornalista socioambiental e atua com o FunBEA em Programas e Projetos na área de educação ambiental e recursos hídricos.

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