O encontro com movimentos e lideranças do Litoral Norte de SP aconteceu no dia 23 de abril em Caraguatatuba

Lideranças comunitárias e representantes de dezessete coletivos apoiados pela Chamada Pública FunBEA pela Justiça e Educação Ambiental Climática estiveram presentes no Centro Cultural Jetuba “João Paulo dos Santos”, em Caraguatatuba, para mais um encontro da Comunidade de Aprendizagem. O evento aconteceu em 23 de abril e retomou as ações do apoio às organizações e movimentos que compõem a Chamada, um trabalho que vem sendo feito desde setembro de 2024. A programação também contou com diálogos sobre Justiça Climática, Soluções Climáticas Locais (SCL’s) e partilhas de dúvidas e dores sobre a luta socioambiental.  A Comunidade de Aprendizagem FunBEA, para além de um espaço de trocas de saberes, é também um momento para criação de laços e afetos entre os apoiados e o próprio fundo.

Os anfitriões do encontro foram os membros da Rede de Agroecologia, Pesca e Cultura de Caraguatatuba (RAPECCA), que participam da Chamada Pública e atuam com o objetivo de promover articulação entre os territórios caiçaras, os sítios agroecológicos, as hortas comunitárias, os consumidores e militantes da agroecologia da região. Uma das iniciativas da Rede é a Horta Comunitária do Alto do Jetuba, localizada bem ao lado do Centro Cultural onde aconteceu o encontro. No início da manhã, os presentes tiveram a oportunidade de conhecer o espaço onde são cultivados alimentos para a comunidade. A partir da metodologia de atuação territorial, o FunBEA procura promover intercâmbios entre os movimentos, em seus territórios, junto de suas comunidades.

A Horta Comunitária Alto do Jetuba. Foto: FunBEA

A partilha de angústias e o desabafo daqueles que resistem na luta socioambiental estiveram presentes durante o evento. Diálogos sobre o futuro do território do litoral norte de São Paulo com o debate sobre questões que dizem respeito à desapropriação, deslocamento forçado e qualidade de vida das comunidades tradicionais e periféricas ocuparam parte da programação. Logo após a conversa, o pajé Sérgio Macena, da Aldeia Guarani Mbya Rio Silveira, uma das lideranças apoiadas, entoou uma reza de proteção e deu o tom ao restante do encontro. O almoço foi preparado e servido por Selma Alves, caiçara da Praia da Cocanha, em Caraguatatuba, que serviu o tradicional Lambe-Lambe, prato caiçara composto por mariscos, arroz e temperos. 

Soluções Climáticas Locais: compreensão territorial do termo

Um dos momentos importantes do dia foi o debate sobre os conceitos de Justiça Climática e Soluções Climáticas Locais (SCL’s). Enquanto o primeiro é a compreensão de que aqueles que menos contribuem para a crise climática, são os que mais sofrem suas consequências, o segundo é a ideia de que fortalecer e garantir o direito das comunidades de exercerem os seus modos de vida é uma das ferramentas para enfrentar a crise climática. Isso parte da ideia de que o desafio é global, mas com consequências locais e específicas para cada território. Por esse motivo, as soluções também devem levar em conta as características locais.

No entanto, ainda existe uma certa distância entre o conceito e a compreensão de sua prática efetiva por parte das comunidades. “Encontros como este se revelam ainda mais necessários, pois também são um espaço de troca e aprendizado sobre um tema que vem ocupando o centro da agenda ambiental”, explica a secretária geral do FunBEA, Semíramis Biasoli. “Ao dominar o discurso dominante, representantes de povos originários e comunidades tradicionais e periféricas ganham mais autonomia e reconhecimento de seu poder para reivindicar e defender os seus direitos”, completa. 

O que é a Comunidade de Aprendizagem (CA) FunBEA

 

A Comunidade de Aprendizagem é um processo educador que parte da premissa de que no encontro entre diferentes atores são construídas novas possibilidades de compreender o mundo e a si mesmo. Reforça, portanto, a importância do outro no movimento de produzir sentidos e significados.

Nesta Chamada Pública, além da questão climática, optou-se em dar um maior foco no Desenvolvimento Institucional (DI) dos movimentos e coletivos apoiados, pois o FunBEA acredita na importância deles terem o seu planejamento territorial, gestão e reflexão da identidade realizados com potência e qualidade, garantindo  autonomia a médio e longo prazo. 

Segundo Isabela Kojin Peres, Coordenadora de Programas do FunBEA, “organizações socioambientais, em especial as de base, estão à frente de lutas cotidianas cada vez mais urgentes e, por isso, acabam ficando muito focados nas suas ações e projetos e acabam não tendo tempo, recurso e ferramentas para se planejarem, organizarem e pensarem no que precisam para cuidarem de si”.

Para além do Desenvolvimento Institucional individual de cada um dos apoiados, a Comunidade de Aprendizagem também vem tecendo relações e fortalecendo conexões, construindo uma agenda territorial a partir da partilha de desafios comuns daqueles que resistem em seus territórios. Com isso, a luta socioambiental ganha fôlego e os resultados de práticas ancestrais ecoam. “Se nós estivermos unidos nessa rede, somos bem fortes. Sem união, não somos nada”, reforça Pedro Paes, caiçara e fundador da Associação Caiçara Juqueriquerê (ACAJU), apoiada pelo  FunBEA, presente no encontro.

Pedro Paes é caiçara e há 25 anos fundou a Associação Caiçara Juqueriquerê. Foto: FunBEA

O ciclo formado por mentorias individuais e encontros da Comunidade de Aprendizagem FunBEA da Chamada Pública pela Justiça e Educação Ambiental Climática segue até setembro deste ano, quando acontecerá um evento de encerramento para compor o Mês da Filantropia que Transforma. O FunBEA segue atuando ao lado de povos originários, comunidades tradicionais e periféricas na luta por um mundo com justiça socioambiental e climática.