A Rede que hoje conecta mais de mil pessoas na costa sul de São Sebastião, litoral de São Paulo, envolve a comunidade com diferentes ações entre doações de alimentos, troca de mudas e sementes, quintais produtivos, construções ecológicas e a mais recente: medicina da floresta.

Fazer a comunidade se entender como ator no desenvolvimento comunitário é o objetivo da paulistana Ingrid Reis, idealizadora da Brotar, um projeto de consumo consciente desenvolvido com bases da agroecologia. Ingrid inicia sua história na comunidade, quando deixa São Paulo e vai morar no Sertão de Camburi, litoral norte do estado. “É muito forte em mim a vontade de estar aqui. Não consigo ficar um dia sem pensar em uma maneira de encontrar o diálogo com a comunidade pra gente parar de destruir”, conta Ingrid. Ela ressalta que para participar da Rede Brotar é preciso primeiro ter vontade de mudar, encarar novos desafios alimentares e mudanças no ato de consumir, além de contribuir para a produção de alimentos.

Foto: Suellen Nobrega

Hoje são mais de mil pessoas conectadas na Rede, que a fortalecem e contribuem na busca da sustentabilidade rural e geração de trabalho e renda. A atuação da Rede se harmoniza com a natureza. A participação é diversificada, construída e vivenciada pelas pessoas da comunidade  que adquirem cestas com alimentos orgânicos. Além disso, produzem e doam as cestas vivas para comunidades carentes, incentivam roças em quintais, cuidam das pessoas pela medicina da floresta, trocam mudas, sementes, saberes e o principal –  estão muito envolvidas em brotar soluções agroecológicas por meio da vivência em uma sociedade sustentável da qual acreditam e fazem acontecer.

A sinergia se dá pelas pessoas e entre pessoas, e são diversas as ações realizadas. Só pra dar um exemplo da integração que o movimento faz, o grupo de consumo responsável que compra as cestas orgânicas, oferece serviços com descontos para os demais membros da rede e são os responsáveis por organizar as feiras para a comercialização dos produtos e alimentos.  Outra história linda da Rede, vem das mulheres acima de 40 anos, que  compartilham seus saberes para a saúde mental, física e espiritual dos moradores. Juntas estão semeando a Casa das Carolinas, um espaço de cura voltado para a prevenção de doenças por meio da alimentação saudável e cozinha viva. Um Posto de Saúde Verde com a medicina natural.

Foto: Suellen Nobrega

Em outra frente, um grupo pensa o plantio, a produção local, a troca para fornecer os alimentos e produtos entregues nas cestas vivas  e  incentivam o plantio nas casas dos moradores. São os chamados quintais produtivos, algo simples que funciona pelo WhatsApp, mas que une pessoas de São Sebastião até Bertioga na Rota SP55 –  A Rota Verde,  dispostas a trocarem sementes, mudas, saberes e alimentos.

Parte das trocas, são doadas para a aldeia indígena Rio Silveiras, em Bertioga e as mudas produzidas pelo grupo incentivam o plantio em novos quintais produtivos.  Desde março deste ano, mais de mil mudas e sementes foram trocadas.  Atualmente são cinco quintais produtivos em Camburi e mais três iniciando a produção em Bertioga. “O município de São Sebastião não tem áreas rurais públicas para plantios então os quintais produtivos estimulam o nascimento de algumas roças agroecológicas nos quintais dos moradores” esclarece Ingrid.

Na proposta de atuar com políticas públicas nas bases da agroecologia no litoral norte, desde 2018, o Comitê de Bacias (colegiado que cuida da gestão das águas), possui um grupo com diferentes segmentos da sociedade: a Câmara Técnica de Agroecologia e Sistemas Agroflorestais. Ela vem construindo projetos e ações que irão mapear e ajudar 20 propriedades rurais com a implantação de quatro metodologias referência.

Outra iniciativa, é a previsão para os próximos quatro anos de investimentos do Fehidro (Fundo Estadual de Recursos Hídricos) para projetos agroflorestais e agroecológicos. “Evoluímos no reconhecimento da agroecologia dentro do Comitê e também nas ações do território com respeito à questão social do trabalhador; substituição de cultivos tradicionais por aqueles que valorizam os recursos hídricos; a não utilização de agrotóxicos e a manutenção de áreas para cultivo evitando a expansão imobiliária”, declara Silas Barsotti Barrozo, coordenador da Câmara Técnica de Agroecologia e Sistemas Agroflorestais. Ele evidencia outro avanço necessário na expansão da agroecologia: o reconhecimento da comunidade tradicional caiçara que permitirá um resgate da cultura, das roças e dos bananais, valorizando costumes e saberes de vida tradicionais.

Mais do que unir o coletivo no resgate da relação com a natureza, agroecologizar territórios é uma ação de segurança alimentar e proteção da vida. Segundo dados nacionais do Atlas Geografia e Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Européia, lançado no ano passado, o Brasil é líder mundial de pesticidas na agricultura. Tal realidade não se limita à contaminação de alimentos e cursos dágua, há estudos que associam casos de mortes, após extensa exposição, contato ou ingestão de tais substâncias.

Diante do atual cenário na política de governo de enfraquecimento de propostas relacionadas à segurança alimentar, iniciativas como as da Rede Brotar e da Câmara Técnica de Agroecologia e Sistemas Agroflorestais  de estímulo e fomento a processos agroecológicos, têm se mostrado uma esperança para a transformação da vivência dos modos locais, contribuindo para a gestão urbana, social e ambiental das cidades.

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One Comment

  1. Maria Alba Sa Rosa 6 de junho de 2020 at 01:57 - Reply

    Isto é vida de viver

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