O rapper Brenalta, uma das lideranças jovens apoiadas pelo FunBEA, realizou um grande evento cultural em parceria com o movimento União dos Atingidos
Breno Silva do Nascimento, conhecido como Brenalta, é um rapper, MC, poeta, ator e professor natural de São Sebastião, litoral norte de São Paulo. Ele foi um dos selecionados pela “Chamada Pública FunBEA pela Justiça e Educação Ambiental Climática” enquanto uma liderança jovem territorial. No último final de semana de março, dias 29 e 30, Brenalta idealizou e promoveu o evento gratuito “Fest Verso”, no bairro de Boiçucanga. A programação que aconteceu durante o final de semana inteiro contou com mais de trinta atrações, entre artistas locais e de outras regiões do Brasil, como Minas Gerais e interior de São Paulo. Além da articulação de Brenalta enquanto liderança jovem, também estiveram presentes os membros da União dos Atingidos, outro importante movimento selecionado e apoiado pela mesma chamada FunBEA.

Arte decolonizada!
Caiçara nascido e criado em São Sebastião, Brenalta começou a se envolver com arte ainda na primeira infância, quando participava de oficinas de teatro na escola. Aos onze anos, descobriu o rap, estilo musical que mistura música e poesia. Hoje, aos 26 anos, coleciona mais de mais de 150 títulos de batalhas de improviso e slams. Dentre eles, o título da Copa Internacional Lusófona (Lusó SLAM) e a medalha de prata no Campeonato Nacional (Copa das Favelas). Carrega em sua bagagem o EP Amanhã Não Tem Show (2020), o álbum Escombros (2021), o EP Antes do Fim (2022) e o EP SÓIS (2023). Além de música, trabalha também com literatura (é autor do livro “Margem”, lançado em 2023) e com cinema (foi protagonista do longa-metragem independente “Fui!”, em 2018, do diretor Alessandro Buzzo). Mas, acima de tudo, é um multiplicador: “a minha meta é jamais ser a exceção da regra. Quero que venham outras vozes, outras figuras que venham de onde eu vim e que possam estar nesse mesmo lugar”, diz o artista.

Pensando nisso, em 2016 idealizou e fundou a Batalha do Verso, a primeira de todo o litoral norte e, em 2018, o Slam do Verso. Os dois são eventos realizados mensalmente na praia de Boiçucanga, em São Sebastião, onde acontecem batalhas de rima e de poesias autorais. O “Fest Verso”, realizado no último fim de semana de março, foi um evento em comemoração ao seu aniversário e dos dois anos do movimento União dos Atingidos – movimento que surgiu algumas semanas depois que a maior chuva já registrada na história do Brasil atingiu o litoral norte paulista, deixando 64 mortos somente em São Sebastião.
Para o artista, mobilizações artísticas como essa são poderosas ferramentas de transformação. Segundo ele, a arte mostra que existem outras possibilidades de existência além daquilo que é ofertado. “São Sebastião é uma cidade muito colonizada, muito elitista e para nós, pessoas pobres, as únicas possibilidades de trabalho são os subalternos, em lugar de servidão. Nada contra esses trabalhos, mas não existe um estímulo para que o jovem sebastianense busque algo a mais. A gente não tem políticas públicas, a gente não tem acesso à arte, ao cinema, ao teatro”, conta.
Por isso, ao lado de outros jovens, o rapper vem há muitos anos fortalecendo a cena cultural de São Sebastião. O Fest Verso, por exemplo, envolveu a apresentação de dezenas de outros jovens e artistas. “É muito importante que a juventude ocupe vários espaços e, para além de ocupar espaços já criados, crie os próprios espaços”, reitera. Ao fim, circularam pelo evento uma grande variedade de pessoas, dentre crianças, idosos, adolescentes e diversos públicos. “É algo muito forte e muito enriquecedor na vida das pessoas. É fazer com que as pessoas se conectem, fazer com que a quebrada, que a comunidade, se sinta pertencente e protagonista de alguma forma”, conta.

Afetos também constroem lutas
Um dos parceiros de mobilização cultural de Brenalta é o DJ e produtor cultural Ras Davi. Amigos há quatro anos, os dois constroem juntos alternativas para a cena artística e musical do litoral norte de São Paulo. Em 2023, após a tragédia, Ras Davi e outros moradores da Vila Sahy, epicentro do desastre, fundaram o movimento União dos Atingidos. Desde então, a organização popular luta por justiça climática e pelos direitos das vítimas das chuvas de fevereiro de 2023. Para contribuir com a programação, a União dos Atingidos promoveu duas rodas de conversa durante o fim de semana. Com um público total de XX pessoas, uma das rodas abordou a crise climática e a outra discutiu temas relacionados ao empreendedorismo negro. “Eu acredito que quando a gente unifica esses elos, essas forças, as coisas acontecem com mais vontade. Com certeza é uma parceria que a gente vai manter ao longo da vida”, finaliza Brenalta.
Conheça mais do trabalho de Brenalta:
EP Amanhã não tem show – Brenalta & Vico