Hoje, 25 de julho, é comemorado o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha. A data teve início ainda em 1992, quando um grupo de mulheres negras organizou o primeiro Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas em Santo Domingo, na República Dominicana. No evento, as participantes debateram temas relacionados às questões de gênero, raça e classe, além de pensar em caminhos e soluções para enfrentar as desigualdades em suas diferentes formas. Depois, a ONU reconheceu o 25 de julho enquanto essa celebração da (re)existência e luta dessas mulheres. Mais de trinta anos depois, suas vozes seguem ecoando por todo o planeta, inclusive no litoral norte de São Paulo, território com forte presença e atuação de movimentos sociais e lideranças comunitárias que têm as causas de gênero, raça e classe entrelaçadas em suas lutas. 

“O nosso objetivo é fortalecer as mulheres pretas periféricas, para que exista um movimento que liberte e transforme através do resgate das nossas raízes. Isso proporciona autoestima e valorização da população local por meio da coletividade”. A declaração é de Shirlei Rodrigues, uma das integrantes da Associação Rosas Negras, organização sem fins lucrativos com atuação na cidade de São Sebastião. Desde novembro de 2022, suas integrantes promovem ações antirracistas com base na Educação, Cultura e Ancestralidade. 

Foto: Associação Rosas Negras

Em quase três anos de movimento, a associação atuou com temas relacionados à geração de renda para populações vulneráveis, como mulheres em situação de rua, pessoas com deficiência e a comunidade LGBTQIAPN+. Também promoveram projetos culturais, como feiras e sessões de cinema gratuitas para toda a comunidade. A Rosas Negras também tem um trabalho voltado para questões de saúde mental e crise climática dessas populações. Por meio de uma atuação que une saberes ancestrais, terapias naturais e escuta qualificada em territórios atingidos, a associação promove o acolhimento e fortalecimento emocional dessas pessoas. 

“Mulheres mais saudáveis, mental e emocionalmente, impactam positivamente suas famílias e territórios. É um projeto que, delicadamente, rompe silêncios históricos e promove autonomia”, conta Shirlei Rodrigues.

 

E quem tem uma história que vai ao encontro da fala de Shirlei, é Sara Regina Cordeiro. Vivendo em São Sebastião desde os dezesseis anos de idade, Sara é hoje uma liderança comunitária com atuação em todo o município mas, principalmente, na Vila Sahy, comunidade periférica epicentro da tragédia climática que atingiu o litoral paulista em 2023. Durante muitos anos, Sara enfrentou questões de saúde física e mental e uma das maneiras que ela encontrou para retomar sua força, foi o envolvimento com movimentos sociais e outras pessoas que também sonhavam com um mundo mais justo.

Sara Regina Cordeiro. Foto: Letícia Santana

Hoje, ela é integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que começou a atuar no litoral norte de São Paulo após a tragédia climática que atingiu o território, deixando dezenas de mortos e milhares de desabrigados. A pauta principal do MAB é a educação sobre direitos, moradia digna e conscientização sobre as consequências das mudanças climáticas para famílias atingidas e pessoas em áreas de risco. “Eu acredito que com esse trabalho dos movimentos, vamos alcançar a justiça climática que tanto sonhamos”, diz Sara. 

Sara durante manifestação após a tragédia climática de 2023. Foto: arquivo pessoal

A Associação Rosas Negras e Sara Regina foram selecionadas pela Chamada Pública FunBEA pela Justiça e Educação Ambiental Climática, que desde 2024 vem promovendo apoio direto (financeiro) e indireto (formador) para os selecionados. O FunBEA acredita na Educação como ferramenta transformadora de mundos e realidades e hoje, neste Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, celebra essas mulheres que transformam o seu cotidiano em luta agregadora e que sonham com um mundo mais justo.