Em abril de 2025, celebramos treze anos de história, (re)existência, sonhos e muito trabalho em busca de um mundo mais justo para todos os seres vivos.

Acreditamos na potência do coletivo, do comunitário e do encontro com o outro para produzir novos sentidos e significados. Enxergamos a educação como força criativa para imaginar e transformar realidades. Por meio dela, dialogamos, pensamos, criamos e fortalecemos diferentes atores na busca pela garantia de seus direitos. Tecemos redes de afetos e de partilha de dores e angústias daqueles que resistem na luta socioambiental. Há treze anos promovemos espaços de união, de resistência, de criatividade e de criação de outros mundos possíveis onde exista justiça social, ambiental e climática para todos. 

E para que esse trabalho seja possível, contamos com diferentes atores no apoio a um fundo independente. Queremos seguir celebrando durante muitos anos e continuar sendo ponte entre recursos e comunidades tradicionais, periféricas e de base. Por isso, para celebrar nossos treze anos, listamos treze motivos do porquê é importante apoiar um fundo independente e selecionamos alguns exemplos de como transformamos o mundo na prática.

 

1. Para apoiar movimentos de base pela justiça climática; 

Chamada Pública Quanto Vale: Pela reparação, restauração e regeneração do LN de SP (2023)

Em 2023, após uma tragédia climática que atingiu o litoral norte de São Paulo, o FunBEA viu a necessidade de apoiar movimentos socioambientais fundamentais para um processo de restauração, reparação e regeneração do território atingido. Através de uma campanha pública e o apoio da organização internacional Global Fund Community Foundations (GFCG), o FunBEA conseguiu descentralizar recursos e apoiar o trabalho do Movimento União dos Atingidos e Amovila (Associação dos Moradores da Vila Sahy) para que se fortalecessem na luta a favor dos direitos dos moradores atingidos e por processos de adaptação e mitigação locais. Em 2024, esse apoio foi renovado e mais 16 movimentos foram incorporados ao apoio territorial na chamada “Pela Educação e Justiça Climática” no Litoral Norte de SP. 

Deslizamentos de terra na Vila Sahy em fevereiro de 2023. Foto: Ed Davies

2. Para descentralizar recursos para organizações de base; 

Campanha Quanto Vale o LN de São Paulo? (2022)

Em 2022 o FunBEA lançou a campanha “Quanto Vale?” com o objetivo de valorizar a sociobiodiversidade do bioma Mata Atlântica, apoiando de modo direto e indireto lideranças comunitárias, coletivos e movimentos socioambientais que atuavam na faixa litorânea de SP- remanescente preservado desta rica floresta. 

Três movimentos  de base, Coletivo Educador de Bertioga, Coletivo Escambau e Coletivo Caiçara, que trabalham com educação, cultura e tradição foram apoiados diretamente com recursos financeiros e indiretamente com mentorias e formação para o fortalecimento do seu desenvolvimento institucional e para a implementação de 8 iniciativas pautadas em soluções baseadas na natureza, processos formativos e incidência em políticas territoriais. As decisões foram tomadas de forma colaborativa, respeitando a autonomia dos apoiados, o que gerou resultados transformadores em seus territórios.

Coletivo Educador Bertioga durante a construção da trilha ecológica no Parque Restinga de Bertioga.

3. Para incidir em políticas públicas;

Cuidadores das Águas 

O FunBEA acredita na Educação como ferramenta de transformação a partir da autonomia e fortalecimento de atores territoriais na luta pela garantia de seus direitos. Por esse motivo, desenvolvemos processos formadores como o “Cuidadores das Águas”, com o  objetivo de engajar e potencializar  cidadãos para o cuidado das suas águas.  

O “Cuidadores das Águas” contribui diretamente para o fortalecimento das comunidades, da recuperação, cuidado dos recursos hídricos e do fortalecimento dos Comitês de Bacias Hidrográficas da região – instâncias políticas estratégicas que reúnem poderes   municipais, estaduais e do setor privado em deliberações diretas de aporte de recursos e investimentos públicos de projetos de infraestrutura urbana e educação. A preparação e o posicionamento crítico dos atores sociais que incidem nessa instância é fundamental para a transformação social que o FunBEA propõe para o Brasil.

Assista aqui à websérie produzida durante o “Cuidadores das Águas”

 

 

4. Para incentivar o protagonismo de comunidades e lideranças na condução de seus destinos; 

Lideranças comunitárias na linha de frente da luta pela justiça climática (Portal Neo Mondo)

Em 2024, por meio da Chamada Pública FunBEA pela Justiça e Educação Ambiental Climática, apoiamos cinco lideranças, dentre jovens, mulheres e líderes comunitários. Breno Silva do Nascimento, Cosme Vitor, Leandro Dos Santos Silva, Sara Regina Cordeiro e Sérgio Macena foram os cinco selecionados que, desde setembro de 2024, vêm recebendo apoio formativo para se tornarem cada vez mais protagonistas de seus próprios destinos. Por meio da apropriação de temas que dizem respeito às suas existências, lideranças comunitárias podem inspirar mudanças em seus próprios territórios e lutar pela garantia de seus direitos de maneira efetiva e organizada. 

Sara Regina Cordeiro. Foto: Letícia Santana
Leandro dos Santos. Foto: Ed Davies
Pajé Sérgio Macena. Foto: Ed Davies

5. Para pensar estratégias de adaptação e mitigação justas frente às mudanças climáticas; 

Círculo Territorial Pela Reparação do LN

Após a tragédia climática que atingiu o território do litoral norte de São Paulo, o FunBEA promoveu o Círculo Territorial do LN, uma estratégia de governança participativa  que consiste em conectar atores locais em uma aliança para pensar as demandas sob a perspectiva da resiliência e da regeneração territorial.

Esse círculo foi constituído por cerca de 30 integrantes de organizações, sendo eles: membros da ERRD- LN (Rede de Educação para Redução de Riscos de Desastres do Litoral Norte de São Paulo), constituído por 22 instituições e que já estava trabalhando com os desastres socionaturais na região; Instituto Conservação Costeira (ICC); Comitê União dos Atingidos; Fundação Florestal, Instituto PROCOMUM e lideranças comunitárias. 

Reunião do Círculo Territorial. Foto: FunBEA

6. Para apoiar com recursos financeiros quem está na linha de frente contra as desigualdades; 

Apoio a lideranças que inspiram mudanças

Cosme Vitor é uma das lideranças selecionadas pela Chamada Pública FunBEA pela Justiça e Educação Ambiental Climática. Ele é metalúrgico, militante dos movimentos populares há mais de 40 anos e um dos criadores da Associação de Favelas de São José dos Campos. Cosme também se envolveu na luta por moradia no litoral norte de São Paulo por meio do Movimento da União dos Atingidos e é um grande líder ativo na busca por mudanças e por justiça social, ambiental e climática. 

Cosme Vitor é uma das lideranças apoiadas pelo FunBEA. Foto: Arquivo pessoal

7. Para lutar contra o racismo ambiental; 

Apoio a movimentos que pautam a transversalidade da luta socioambiental

Acreditamos que a luta socioambiental é um movimento transversal: não existe Meio Ambiente que não seja atravessado por questões de gênero, raça e classe. Por isso, aqui enfrentamos o racismo ambiental por meio do apoio àqueles que pautam essa luta diariamente. Um exemplo é a Associação Rosas Negras, um dos selecionados pela Chamada Pública FunBEA pela Justiça e Educação Ambiental Climática de 2024. A associação é composta por mulheres pretas e promove ações antirracistas por meio de projetos culturais, educacionais e psicossociais pensados a partir da coletividade. Com o apoio da chamada iniciativas de geração de trabalho e renda estão sendo implementadas pelas mulheres.

Representantes da Associação Rosas Negras ao lado de Mahryan Sampaio, Neidinha Suruí e outros representantes do FunBEA e de movimentos apoiados. Foto: Reprodução/Facebook Rosas Negras

8. Para promover laços, afetos e redes nos territórios e biomas;

Comunidades de Aprendizagem (CA) 

Como parte de nossa metodologia, desenvolvemos a metodologia da  Comunidade de Aprendizagem (CA) como apoio indireto aos apoiados de chamadas. A CA é um modelo educativo comunitário que tem como principal objetivo dialogar sobre temas e conceitos importantes sobre o território/comunidade no qual as campanhas estão inseridas. É um processo educador que parte da premissa de que no encontro entre diferentes atores são construídas novas possibilidades de compreender o mundo e a si mesmo. 

Encontro da Comunidade de Aprendizagem FunBEA da Chamada Pública pela Justiça e Educação Ambiental Climática em outubro de 2024, no Quilombo da Caçandoca, Ubatuba (SP). Foto: Fernanda Biasoli

9. Para fortalecer a juventude; 

Apoio a lideranças jovens

Para além dos apoios a comunidades e lideranças comunitárias, o FunBEA também acredita no poder da juventude para inspirar mudanças. Por isso, em nossas Chamadas Públicas, apoiamos lideranças jovens que atuam em seus territórios. Um exemplo é o rapper, MC, poeta e ator Brenalta, liderança que engaja milhares de jovens através da música e poesia. Com o apoio do FunBEA, Brenalta tem fortalecido a agenda do clima na região e a incidência da juventude em espaços de discussões, como por exemplo a Coalizão Nacional de Juventudes pelo Clima (Conjuclima), que o rapper passou a integrar com apoio do FunBEA.

O FunBEA acredita na juventude para inspirar mudanças. Foto: Reprodução/Redes Brenalta

10. Para promover a sociobiodiversidade; 

Apoio a movimentos que promovem a agroecologia e outras maneiras de se relacionar com a terra

Povos originários, comunidades tradicionais e movimentos socioambientais existem a partir de uma outra relação e compreensão da terra, em que não existe separação hierárquica entre seres humanos e seres não-humanos (animais, rios e florestas). No FunBEA acreditamos que ao incentivar e fortalecer esses diferentes modos de vida e de uso da terra, contribuímos com uma mudança estrutural de médio e longo prazo. Práticas agroecológicas e de partilha de alimentos transformam territórios e comunidades. Por esse motivo, apoiamos iniciativas como a Rede de Agroecologia, Pesca e Cultura de Caraguatatuba (RAPECCA), que promove uma articulação entre os territórios caiçaras, os sítios agroecológicos, as hortas comunitárias e os consumidores locais. 

Horta Comunitária do Alto do Jetuba, território de atuação da RAPECCA. Foto: Fernanda Biasoli

11. Para garantir a conservação e restauração do meio ambiente; 

Apoios a movimentos que promovem a regeneração e conservação da biodiversidade

O Movimento da Baía do Araçá é um exemplo simples e direto de regeneração do meio ambiente. O pescador caiçara Humberto Messias, junto ao movimento apoiado pelo FunBEA, faz a restauração do mangue  do Araçá, local que vem sistematicamente perdendo área em função da expansão do Porto de São Sebastião e das atividades petroquímicas na região.  Fundamentais na luta contra as mudanças climáticas e uma das chaves para a continuidade da vida de muitas espécies, inclusive a humana, os mangues são ecossistemas cada vez mais fragilizados. O movimento Baía do Araçá é hoje um símbolo de resistência e a maneira como sua regeneração vem sendo feita é um exemplo de Solução Baseada na Natureza. 

Humberto desenvolveu um método próprio de produção de mudas resistentes ao ambiente do Mangue do Araçá. Foto: Ed Davies

12. Para promover a educação climática; 

Construção de Diretrizes de Educação Ambiental Climática

Diante de um contexto de crise climática cada vez mais extrema, a Educação Ambiental emerge como uma poderosa ferramenta de combate às mudanças climáticas.  No entanto, não existiam diretrizes claras para ações educadoras de enfrentamento às emergências climáticas. 

Enxergando esse cenário, em 2023, o FunBEA em parceria com Instituto do Clima e Sociedade (ICS) e com o apoio do Programa Cemaden Educação (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais – Cemaden/MCTI), coordenou uma pesquisa para entender o que existe no Brasil sobre iniciativas para enfrentamento das emergências climáticas.A partir dessa pesquisa inicial, foram desenvolvidas as Diretrizes de Educação Ambiental Climática, uma série de orientações sobre o campo que vem sendo instrumento de referência  para agendas de políticas públicas e incidência em todo o Brasil. 

A presidente do FunBEA, Mahryan Sampaio entrega para Ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, as diretrizes durante a COP 28, em Dubai, em 2023.

13. Para pensar modelos de transição socioenergética justa; 

Termo de Cooperação com a FASE

O FunBEA vem construindo alianças com parceiros da resistência socioambiental que atuam em territórios que já sofrem o impacto de transições energéticas. Um exemplo é o Termo de Cooperação assinado com a FASE, uma OSC que atua com questões relacionadas ao desenvolvimento local, comunitário e associativo, para contribuir com o fortalecimento do Centro TIPITI. Este é um Centro de Cooperação e Educação Socioambiental alinhado a política pública federal do MMA, coordenado pela FASE e que agora também conta com nosso apoio.

Equipe FunBEA e FASE em visita à Associação de Moradores da Ilha do Capim, no Pará. Foto: Verena Figueiredo